Método Montessori (0-3 anos) II

No seguimento do artigo introdutório ao Método Montessori, vou publicar aqui vários outros com o que aprendi na formação do International Montessori Institute, de Barcelona, sobre o tema.

Já vimos o conceito da Mente Absorvente e que ela está presente de diferentes formas nos vários períodos sensíveis. Falei-vos também sobre as tendências humanas, os padrões de comportamento comuns a todos os seres humanos, que se apresentam ao longo da vida e cuja manifestação ajuda o ser humano a desenvolver várias atividades e competências.

hoje, iremos começar por falar, no seguimento dos temas da primeira parte, sobre as etapas do Desenvolvimento Humano.

Maria Montessori identificou quatro fases do desenvolvimento humano, muito relevanetes na educação, pois explicam o comportamento humano em cada um desses intervalos:

  1. 0 aos 6 anos: Independência Física
  2. 6 aos 12: A Infância – Independência Intelectual
  3. 12 aos 18 anos: A adolescência – Independência Social
  4. 18 aos 24 anos: A maturidade – Independência Moral
Imagem: International Montessori Institute

Segundo Maria Montessori, as etapas a vermelho (faz alusão às explosões vulcânicas),
representam períodos de grandes transformações nos indivíduos, que compara às
metamorfoses dos insetos. As etapas azuis, cor da calma, referem-se a períodos de maior estabilidade.

Vamos então ver em detalhe o primeiro plano, já que estes artigos são focados nas crianças até aos 3 anos.

Primeiro plano: do nascimento aos 6 anos | A primeira infância e a independência física

Os primeiros anos de vida, entre os 0 e os 6 anos, são fundamentais para o que Maria Montessori designa de “construção do Homem”. É nesta altura que se formam a personalidade, as capacidades básicas, o estilo de aprendizagem.

Agora, voltámos ao que falámos na primeira parte: para desenvolver essas características, a Mente Absorvente e os Períodos Sensíveis, que atuam como as leis do desenvolvimento Humano. Este primeiro plano é dividido em duas etapas por Maria Montessori:

  1. Dos 0 aos 3 anos, uma fase de grande construção e absorção;
  2. Dos 3 aos 6 anos, em que são afinadas e consolidadas as habilidades adquiridas.

Nascemos totalmente dependentes; o nosso desenvolvimento assenta em estruturas cognitivas que antecedem o desenvolvimento dos mecanismos motores. Desta forma, o recém-nascido tem que se adaptar ao seu meio ambiente, pela observação e absorção. Serão as experiências e as impressões que absorverá como uma esponja desse meio que irão construir a sua mente.

Nascendo indefesos e com uma linguagem baseada no choro, será pela qualidade das experiências concretas, sensoriais, com o seu contexto, que o recém-nascido conseguirá desenvolver o movimento coordenado, fundamental para o seu desenvolvimento.

Durante a primeira etapa, até aos 3 anos, a mente está em absorção contínua, de forma inconsciente – o que absorve vem do contacto com o local mais próximo a si. Podemos dar aqui como exemplo a obtenção da linguagem, que vai ser sempre construída sobre o que ouve e experiencia. É também durante esta fase que aprende as diferenças entre o que é real e o irreal, e que desenvolve a coordenação motora; todos estes conhecimentos vão permitir atingir uma maior independência, muito visível quando falamos em tarefas como a higiene pessoal, por exemplo.

Na segunda etapa, entre os 3 e os 6 anos, passamos para um período de absorção consciente. Ou seja, a mente é então mais sensível a cada ação e às reações que vê no ambiente em que vive. Surgem novas competências, como a concentração, a vontade e a memória, que são constantemente trabalhadas. É nesta fase que a criança passa a sentir controla o ambiente onde se insere, e começa a utilizar os sentidos para aprender. Já consegue interagir fisicamente com o contexto e utiliza isso para aperfeiçoar as aquisições e para construir a inteligência através do que Maria Montessori designa por “trabalho da mão“: as mãos são entendidas como uma ferramenta consciente de uso, e não como simples receptores de estímulos, como acontecia na mente inconsciente.

No artigo anterior, mencionei a ordem como uma manifestação essencial dos períodos sensíveis e da vida, na infância. Vamos explorar isso.

A ordem e a organização

Na primeira etapa de vida, a criança tem uma sensibilidade especial à ordem, sobretudo nos primeiros anos, sendo uma das necessidades vitais durante a infância.

Pensemos assim: o recém-nascido chega a um ambiente desconhecido ao qual tem de se adaptar. Para isso, necessita de observar, pelo que é importante que encontre ordem na localização dos objetos. Assim, poderá conhecer o seu ambiente, orientar-se e ir estabelecendo relações entre as coisas. Isto permite que se sinta confiante e segura para explorar esse ambiente.

Pensem neste exemplo: todos temos esta uma tendência natural para ordem e organização, mas nem todos a seguimos de igual forma. Há quem tenha a mesa de trabalho cheia de documentos e outros objetos espalhados, o quel facilmente seria o caos para muitos de nós. No entanto, essas pessoas onde está cada coisa, porque as organizaram.

A partir da ordem externa constrói-se a ordem interna, que permite à criança o desenvolvimento da
propriocepção, isto é, conhecer a posição das diversas partes do corpo em relação ao ambiente, o que
também ajudará a desenvolver o movimento coordenado.

Neste princípio da ordem, entram as rotinas: é importante estabelecer horários para as atividades
de cuidados, tanto quanto possível e sem extremismos, pois essa organização permite que haja ordem nas experiências e cria estabilidade. Há aqui um fator de previsibilidade que dá tranquilidade, segurança e confiança à criança. Além disso, as rotinas permitem que a criança, à medida que vai crescendo, se envolva em tarefas diários da família e assuma pequenas responsabilidades. Isso ajudará a conquistar diferentes graus de independência. 🙂

Ainda no respeita às crianças, a ordem vem também da partilha social com adultos e outras crianças. No seu espaço dedicado ao lazer, é importante que as coisas estejam claramente ordenadas (onde são livros, brinquedos, etc) e que elas participem ativamente na sua arrumação e organização. Ajuda se não os sobrecarregarmos com objetos e brinquedos.

Os sentidos

Fazemos agora ponte a para os sentidos, porque é nesta fase, principalmente até os 5 anos, que as crianças estão muito mais aptas para desenvolver e aflorar os seus sentidos. Aqui deixo-vos uma sugestão de atividade: a caixa dos tesouros.

Cesta dos tesouros Montessori: o que é e como fazer?
Imagem: https://www.criandocomapego.com/cesta-dos-tesouros-montessori-o-que-e-e-como-fazer/

Peguem numa caixa ou cesta e lá juntem todos os tipos de material que encontrarem: coisas feitas em plástico; pinhas; enfeites de natal (pedaços de grinaldas, por exemplo); objetos feitos em papel; tecidos; cordas; rocas com guizos; sacos (fechados) com objetos dentro; etc.

Objetivo é terem todos os tipos de objetos suscetíveis de serem inspecionados usando os sentidos do tato e o auditivo e, em alguns casos, olfativo. Podem também incluir algo com sabor.

A partir dos 3 anos de idade, quando a mente absorvente passa a ser consciente, podem fazer caixas com objetos para reconhecer com os olhos fechados através do toque, olfato e audição.

Por agora, deixo-vos com estas sugestões. No próximo artigo sobre Montessori, irei continuar a falar sobre a independência e sobre a autonomia. Para acompanharem todos os artigos sobre o Método Montessori, cliquem aqui ou pesquisem “Montessori” na barra de pesquisas do blogue. 🙂

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