Há alguns meses (largos), corria ainda o Verão de 2021, começámos a trabalhar as idas ao pote da Pipoca mais nova. Não foi fácil desde o primeiro dia: ela não queria, de todo, sentar-se no pote, e convencê-la a aceitá-lo (sem forçar, claro está) foi uma tarefa de muita paciência e imaginação.
Lá a convencemos de que se podia sentar no pote, primeiro com roupa, depois só de fralda, depois sem a fralda – isto ao longo de meses até chegarmos a este terceiro ponto. Não desistam; a história continua.
Chegamos a 2022, e lá conseguimos ter isto mais rotinado: chega a casa da escola (saltando aqui as semanas em que estivemos em confinamento, claro está), vai uns minutos ao pote enquanto vê um ou dois episódios de uma das séries de que gosta, sai do pote, brinca, janta, volta ao pote mais 5 a 10 minutinhos, depois fralda e cama.
Chegamos à primavera e a coisa até estava a rolar bem, ao ponto de – pasmem-se! – conseguirmos fazer um desfralde diurno. Sim, cuecas o dia todo, com alguns acidentes de quando em vez, mas a ser ela a ter a iniciativa de ir ao pote! Fantástico, não acham?
Vamos pôr agora um travão nesta felicidade.
As semanas passam e tudo ótimo no setor líquido – chichis no pote ou até na sanita – e nada no setor sólido. Quando vos digo nada, é, literalmente nada, a não ser umas manchinhas na fralda.
Antes que me perguntem: a alimentação era toda virada para ela poder fazer cocós, nem que fosse por não aguentar: ameixas, kiwis, laranjas, hidratos integrais, muita água, tudo o que prenda excluído (ou imensamente) diminuído da alimentação dela. O resultado? Igual: zero cocós e a barriga dela a encher como se fosse uma bola de futebol, até ao ponto em que não aguentámos e a levámos ao pediatra, o Dr. Manuel Magalhães, nos Lusíadas (Porto).
Tentámos de tudo antes disso: pô-la de fralda durante o dia (com as cuecas e sem as cuecas, não fosse ter influência), jogámos com um “calendário” de carimbos como fizemos com a irmã, mais 3 ou 4 coisas que não me recordo agora… sem resultados.
Não vou mentir: senti-me de rastos nessa altura, a culpa era enorme, mas só deixámos passar vários dias antes de ir a correr para o hospital porque ela não teve mais sintomas – a não ser a tal sujidade que vinha na fralda, e que o pediatra nos explicou que era “soiling” e o facto de começarmos a sentir umas “bolotas” na barriga dela.
Esta sujidade (“soiling”) é já um sinal avançado de obstipação e deve ser um alerta, ficam a saber, e as “bolotas” são fezes duras que são difíceis de evacuar.
Na consulta, para além de dicas para o dia-a-dia, saímos com um plano de medicação a longo prazo:
- A primeira prioridade era esvaziar o intestino, por isso começámos por dar Casenlax (primeiro em saquetas, mas o xarope é mais prático e mudámos para esse) em subida de dose, diariamente: primeiro 2 ml de manhã + 2 ml à noite e, sempre que não esvaziassem dobrar a dose no dia seguinte até 8 ml + 8 ml. Chegámos a esse ponto, vários dias nessa dose, e ela realmente esvaziou.
- Depois, estabilizar: quando ela já estivesse regular, ir descendo a dose da mesma forma, até ao mínimo e manter no mínimo durante cerca de mês e meio a dois meses, até ela ser completamente independente e regular na evacuação.
Esta parte parecia correr bem, até que, em 2 semanas, ela deixou novamente de fazer. Voltámos a aumentar a dose do xarope e nada. Nada, zero.
Isto coincidiu com a consulta dos 3 anos dela, por isso foi bom até já termos a consulta marcada nessa altura, para expormos o tema. Como o Casenlax, desta vez, não estaria a ser suficiente para a forçar a evacuar, juntámos:
- Laevolac: uma dose a meio do dia
- Actyflor: uma saqueta antes do jantar
Quando juntámos o Actyflor notámos que ajudou a regular e pudemos reduzir novamente os xaropes, pela ordem indicada pelo pediatra: primeiro retirar o Laevolac e depois ir reduzindo novamente o Casenlax.
Tudo fixe, até reduzirmos o Casenlax ao mínimo – e para vos dar ideia, nisto estamos em meados de Agosto, altura em que estávamos prestes a ir de férias.
Nas vésperas de irmos de férias, ela estava novamente a ficar cheia que nem um balão, e nós já estávamos a aumentar a dose do Casenlax, quando surge um dia de vomitar constante. Fomos às urgências e, dado o histórico dela, estaria provavelmente relacionado com o intestino dela. Nas urgências deram medicação para parar os vómitos e depois esteve um par de horas a beber, 5 ml de cada vez, Bi-Oral Suero, até ter alta. Ordem: continuar o ciclo do Casenlax.
Seguiram-se uns dias de férias muito “interessantes” com cólicas dela, até que realmente começou a evacuar novamente. Eis o alívio, certo? Sim, mas dura pouco. Fizemos as férias, medicação em alta e a funcionar (parece-me que ela é ultra resistente a isto, ou então será apenas teimosia em estado puro), voltámos a casa e entramos no mesmo ciclo. Desta vez – e já estamos em outubro – ainda não conseguimos voltar à dose mínima do Casenlax.
Continua a fazer este, diariamente, e neste momento vamos nos 4ml + 4ml por dia. Vamos ver se ela consegue regular o sistema todo e não prender: nós notamos que ela prende – e passámos por uma fase semelhante com a irmã, mas nem de longe neste caos que necessitou de 3 medicações, e passou a partir do momento em que ela perdeu o medo de se magoar.
Com esta nada é fácil, nem é à primeira: mentalizá-la disto é um esforço para o qual Hércules não se alistaria, portanto imaginem.
Neste momento, desfralde está parado e retrocedido; fralda 24h/dia (desde Março). Nós conseguimos vê-la com vontade de fazer, e a prender ou só a fazer um “selinho”. E quando finalmente faz nem sequer é duro, por isso não é algo que nos pareça que lhe traga dor. Pensamos que seja mais receio e resistência ligada a esse medo.
Se tiverem dicas – ou um saquinho de paciência – mandem-nos nesta direção porque isto nos leva, às vezes, às lágrimas por nos sentirmos incapazes de ajudar ou de levar isto de uma forma mais tranquila.
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