O post de hoje é sobre um tema que, pelo que passei, requer mais acompanhamento do que é normalmente dado aos recém-pais. Sim, recém-pais.
A amamentação não é só da mãe – é um processo que requer a energia da mãe e do pai. Conto-vos a minha experiência e sei que há muitas outras aí; peço-vos que as partilhem, porque quantas mais forem as diferenças, maior será a informação sobre o tema. Agradeço desde já!
O meu peito pouco cresceu na gravidez, tanto que não precisei de soutiens de gravidez. Comecei a usar os de amamentação já no fim (estamos a falar mesmo das últimas 8 semanas, talvez) apenas por serem mais confortáveis, e aí já não achei que faria sentido comprar um de gravidez por tão pouco tempo.
A pequenota nasceu, o peito igual… teria leite? Mal ela nasceu (depois de limpa e assim, claro) pegou logo na mama. Esteve cerca de 45 minutos a mamar e depois adormeceu. Era leve que nem uma pena, parecia-nos minúscula – teria o leite que ela precisaria para crescer?
Posso dizer que os primeiros dias foram os menos dolorosos (fisicamente) porque no hospital tivemos quem nos ajudasse com algumas dicas: como apertar a mama para vermos se temos leite; como desbloquear os canais para o leite sair; como ajustar a pega do bebé; como posicionar o bebé para mamar de várias formas; etc.
Ao terceiro dia, estamos em casa. Mais um momento “E agora?”. Ok, ela chora à meia-noite de fome e damos de mamar. Fica ali uns 30 a 40 minutos a mamar, adormece e acorda pelo meio, mais uns 15 minutos a mamar e desliga. Arrota e adormece. “Está cheia”, pensamos nós, “agora só daqui a umas 2 horas é que voltamos a isto”. Menos de 1 hora depois ela chora.
“Fome não é”
Foi a última coisa que fizemos, não pode ser fome, certo? Passámos a lista mental toda – fome, fralda, frio / calor, sono e (quando não é mais nada) cólicas. Tem que ser cólicas. Nada. Passava-se tanto tempo que entretanto já era hora de comer novamente. E voltávamos ao início.
Esta foi a nossa primeira semana.
Ao fim da primeira semana, chegou o pior momento que tivemos até agora enquanto pais. Fomos à primeira pesagem e, em vez de ter perdido os normais ~10% do peso do parto no caso dela, seriam entre 200 e 300 gr), perdeu cerca de 15% (quase 500 gr). Basicamente, passou fome durante uma semana porque nós não fazíamos ideia que o meu leite era pouco para as necessidades dela.
Sentimo-nos péssimos. Sentimo-nos horríveis, incapazes, como se lhe tivéssemos negado um direito primário.
A partir desse dia, começou com o Aptamil. Dose mínima, a combinar com o leite materno. A mim, receitaram Promil que não fez qualquer efeito. Zero. “Vai ver que em 2 ou no máximo 3 dias, vai ter as mamas cheias de leite. É possível que até tenha algumas dores com o aumento do peito, mas é assim, rápido!”, disseram-nos no centro de saúde. Não vi nada disso. Só vi dinheiro deitado fora numas saquetas de sabor a laranja e difíceis de diluir como o raio – e que ainda por cima não fizeram nenhum efeito.
A parte ainda pior disto? As discussões. A mãe consegue sentir o seu corpo e, a partir das aprendizagens, ir sabendo então como está de leite e se o seu bebé está bem. Demora tempo, gente, não nascemos ensinadas e nada disto é “by the book”. Bem pelo contrário, é caso a caso e pode ser diferente mesmo na mesma pessoa com diferentes filhos.
Já o pai, neste processo, é constantemente socialmente diminuído, quando deveria ser o oposto. Custou-me que o meu marido me dissesse ou apenas pensasse que eu não estava a esforçar-me ao continuar a tomar o Promil. A minha lógica é simples: se supostamente faria efeito em 3 dias no máximo e ao fim de 5 não noto a mínima diferença, então chega. Chega de meter coisas para o meu organismo que não fazem nada. “Ah, mas mal não faz, é 100% natural” – “olha, o açúcar puro também é 100% natural e nem por isso o como às colheres”. A pressão é tanta que respondi torto algumas vezes e só não respondi mais porque me aguentei. Mas pensei no que ia responder e não era bonito.
Para além das dificuldades na produção de leite em quantidade, começa uma outra: as dores quando ela pegava na mama. Era uma dor tão agoniante que era como se me estivessem a passar vidros pelos canais mamários até cá fora. Tinha que trincar com força um pano de cada vez que a punha a mamar. Depois passava, mas o início era sempre extremamente doloroso.
Após semanas em que a punha a mamar (nas duas mamas) em todas as refeições para ter que lhe dar sempre o suplemento a seguir, não havia qualquer aumento na produção do leite. Isto a beber água, chá de aleitamento, tentar com a bomba, etc.
Decidi então começar a intercalar. A frustração nas mamadas era tanta para mim como para ela, e também para o pai, que só nos estava a minar. Comecei a dar mama vez sim, vez não. Quando vi que já tinha mesmo muito pouco leite, passei a concentrar a mama na primeira da manhã e na última do dia.
Podem criticar-me à vontade, porque tenho a consciência tranquila de ter tomado uma decisão lúcida e que não retira nenhum direito à minha filha. Melhor, desde que comecei esse caminho, que as discussões e frustrações sobre o aleitamento terminaram.
Ouvi muita coisa à qual podia ter respondido mais torto ou ter dado alguma justificação longa e racional, mas, honestamente, não tenho que o fazer. Não tenho essa obrigação. A minha obrigação é providenciar tudo o que a minha filha necessite para crescer saudável. Dá-se o leite enquanto se tem; se não chega, não nos devemos sentir menos mães nem menos capazes. Damos suplemento. É exatamente para isso que existe. Ela cresce saudável de dia para dia e é só isso que me interessa.
Ao pessoal que critica, tentem pôr-se no lugar das outras pessoas. É simples, não é?
~a
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