O que é que estas duas realidades têm em comum? Várias coisas!
Antes de mais, nenhuma delas é um passeio tranquilo: não é fácil ser mãe de duas crianças pequenas, assim como não é fácil ser gestora de produto. Depois de 11 anos a trabalhar em retalho digital, em empresas já há muito estabelecidas no mercado e com hierarquias de grande estrutura, passar a trabalhar numa empresa de SaaS em crescimento foi uma mudança significativa, que às vezes me oferece semanas longas (ainda que com muito esforço invisível) e a elasticidade de usar muitos chapéus diferentes.
Há semelhanças entre o meu trabalho e a paternidade. Adoro o meu trabalho – uma função que abracei há cerca de um ano, pela primeira vez – e adoro ser mãe, e ambos me mantêm focada nos tempos difíceis.
É engraçado como vejo que ser mãe me torna melhor no meu trabalho – tanto neste como no anterior – e que ha partes da minha vida profissional me ajudam na maternidade.
Vou deixar-vos aqui quatro pontos em que a maternidade me torna melhor na gestão de produto.

1. Façam uma perguntas e ouçam (com atenção)
Convenhamos: as crianças fazem muitas perguntas! Quando damos aos nossos filhos a oportunidade de fazer perguntas recebemos informações valiosas sobre como as suas mentes funcionam. Isso ajuda-nos a praticar a escuta ativa, o que nos ajuda a entender como ter empatia com eles e ajudá-los ou encorajá-los em determinada situação.
A gestão de produtos é surpreendentemente semelhante. Eu tento não tirar conclusões precipitadas, e concentro-me em entender os problemas do cliente. Reafirmar e reestruturar o que ouço garante que eu percebo o desafio que os clientes enfrentam, e isto resume uma boa parte da vida de gestor de produto.
💡Dica: chamem a vossa criança interior e perguntem sobre as coisas! Quanto mais perguntas fizerem, mais hipóteses terão de entender um problema de todos os ângulos. Na gestão de produto, temos que saber equilibrar as necessidades das partes interessadas: da engenharia de produtos, do negócio e dos clientes. É frequente termos medo do silêncio; às vezes, as melhores informações e debates vêm depois de deixarmos alguém a pensar sobre o assunto.

2. Pensem rápido e foquem-se em construir continuamente um conjunto de experiências
Como pais, tentamos estar sempre preparados e antecipar várias situações. Vamos passar por uma fila e as miúdas vão ficas entediadas e ansiosas? Sacamos de um brinquedo que levámos na mochila ou inventámos um jogo para elas. Uma fralda não aguentou? Temos um kit para emergências no carro.
As necessidades das crianças mudam e evoluem constantemente à medida que crescem. O nosso trabalho é entender as necessidades, os pontos fortes, os pontos fracos e as características de cada criança para a ajudar a fazer uma transição bem-sucedida para a vida adulta.
Da mesma forma, como gestora de produto tento construir ferramentas continuamente para me ajudar a ser eficiente na função, refinando-as e melhorando-as quando necessário.
Ainda tenho muito (MUITO!!!) que melhorar e inovar, mas há que começar por algum lado. Se o plano A não funcionou, seguimos para o B, C ou D. Estou sempre à procura de métodos para capturar com eficiência os dados sobre o que os utilizadores fazem e as opiniões e ideias dos mesmos.
Assim como as necessidades de uma criança mudam constantemente, as dos clientes também mudam. É fundamental entender o que é preciso para que sejam bem-sucedidos an experiência connosco.
Há muitas maneiras de resolver um problema. Podemos sentir que às vezes nos falta algum conhecimento, mas se procurar soluções – e ajuda – conseguimos ultrapassar variados obstáculos que nos pareciam impossíveis pouco tempo antes.
💡Dica: nunca deixe que a falta de conhecimento o impeça de tentar. No gerenciamento de produtos, você é solicitado a usar muitos chapéus. Seja criativo, peça dicas e truques aos outros e nunca tenha medo de experimentar. Aproveite o tempo para entender o ambiente em mudança; qual foi a solução no mês passado pode não ser a solução hoje!

3. Prioridades e compromissos
Existem muitos artigos recentes sobre a carga mental das mães que trabalham. Todos nós tomamos inúmeras decisões todos os dias, mas como pais, tornamo-nos executores e mediadores inacreditáveis. Como não podemos estar em todos os lugares nem fazer tudo, temos que aproveitar ao máximo o nosso tempo.
Como gestores de produto, estamos constantemente em modo de avaliação e prioridade: devemos ser conscientes e determinados na execução, assim como eficientes – para que haja tempo para sermos visionários. E, talvez mais importante, devemos aprender a colaborar e a cumprir compromissos, já que é uma função que normalmente lida com prazos apertados.
💡Dica: Comecem o dia com uma lista de tarefas críticas e revisão de ações de longo prazo. Há anos que faço isto e dá-me uma visão e um controlo grandes sobre as minhas tarefas. Ajuda a manter o foco no curto prazo sem perder de vista o longo prazo. Podem também bloquear o tempo nas agendas para tarefas mais estratégicas.

4. Estar disponível e ser mais humano
Este é um dos meus pontos favoritos sobre a minha função – ou até da da carreira, no geral – já que sou uma ponte entre o desenvolvimento, o negócio e o cliente. O mesmo se passa em casa – a cada dia, as miúdas formam novos conhecimentos e têm novas necessidades e somos nós, os pais, que temos o papel de fazer essas pontes de evolução para elas.
Estarmos disponíveis quando trabalhamos o dia todo não é fácil, mas são as pequenas coisas que contam mais: brincadeiras simples – ainda hoje estivemos com elas a brincar com “ovos de dinossauro” (balões com água congelados, com um boneco lá dentro), e foi um sucesso! 🦕🦖
Gosto muito de ajudar a encontrar informações, de pôr as pessoas em contacto umas com as outras, de dar o suporte necessário para que os colegas encontrem e entendam os processos da equipa e da empresa. Para ser bem sucedidos nisto, a um nível transversal, devemos trabalhar a nossa capacidade de ser mais humano. Seja como pais, seja como gestores.
Errar e aceitar os nossos erros faz parte de sermos pais, certo? Somos humanos, por isso vamos errar, enfrentar desilusões, corrigi-las, demonstrar aos nossos filhos que, apesar de tudo, estaremos sempre lá para eles, e vamos fazer o esforço para que não repetamos essa situação.
No trabalho passamos pelo mesmo. Nem sempre é fácil lidar com os erros que cometemos, e, em gestão de produto podemos cometer passos em falso que têm um grande impacto para o cliente e para o negócio.
Mas, seja em casa ou na gestão de produto, nem tudo são erros – também temos sucessos e momentos em que devemos parar e valorizar o que temos. Encontrem algo em que acreditem. Na gestão de produto, as decisões que tomamos todos os dias afetam o sucesso do negócio e de clientes. Não tenham medo de assumir um papel desafiador e novo, que será sem dúvida difícil, mas que pode causar um impacto positivo.
💡Dica: sejam como o Batman e não como o Super Homem. Eu não sou a Mulher Maravilha, não tenho superpoderes, não sei tudo, não consigo fazer tudo, mas tenho qualidades e ferramentas e ajuda para seguir num bom caminho, seja em casa, seja no trabalho.

Esta visão veio de umas ideias soltas, que tenho tentado por em prática (uns dias correm melhor do que outros, faz parte). Mas gostava de saber o que se passa desse lado. Têm uma função semelhante à minha? Vamos bater umas bolas. 🙂