Escrevo este texto com quase toda a certeza de que não irei escrever outro sobre o tema. Vamos falar sobre a reabertura das creches após o estado de Emergência da Covid-19, e sobre todo o celeuma e achismo que por aí anda.
Começo por dizer que tenho imensa confiança nos profissionais da instituição que as minhas filhas frequentam e que nos têm fornecido conteúdo relevante ao longo deste tempo em casa – quer sobre o funcionamento da instituição, quer material para o acompanhamento dos miúdos em casa.
Com a reabertura das creches, é fundamental adotar medidas que minimizem o risco de contágio entre as crianças e funcionários das mesmas.
Posto isto, sei bem que as medidas orientadoras da Direção-Geral da Saúde (DGS) para as creches, creches familiares e amas foram tidas como bastante restritivas, mas foram concebidas tendo em conta o melhor para a saúde pública. O objetivo é abrir o serviço, proporcionando apoio às famílias que dele precisarem, contando com linhas orientadoras que devem minimizar o risco de contágio. Além disso, também os pais têm novas regras a cumprir relativamente aos contactos com estes serviços; é a importante que os pais saibam
Assim sendo, concordo que seria impossível impedir totalmente que uma criança partilhasse um brinquedo com outra ou que tivessem 2 metros ou mais de distância entre si.
Os cuidados que os pais devem conhecer
Já temos como certo que este novo coronavírus se pode transmitir por contacto com gotículas respiratórias expelidas por alguém infetado ao tossir, espirrar ou falar, ou, de forma indireta, pelo toque com as mãos em objetos contaminados, levando-as depois à boca, nariz ou olhos. Por isso, usar máscara faz agora parte do nosso quotidiano, e lavar as mãos é uma ação constante durante o dia.
É importante que os encarregados de educação estejam a par das normas e procedimentos agora em prática das creches que os educandos frequentam. Estas normas devem estar afixadas em locais visíveis à entrada do espaço e/ou enviadas aos pais por via eletrónica. No nosso caso, recebemos eletronicamente e sabemos que está também no espaço.
Transporte e entrega
Os cuidados começam ainda em casa. Sair de casa já prontinho para ir para a creche, de preferência sem parar pelo caminho (para evitar o contacto com outras pessoas, exceto em caso necessário) e ser o mais prático na chegada à instituição. Os pais devem usar máscara (pelo menos a partir do momento em que saem do carro, desinfetando as mãos antes, se possível).
Neste momento, as crianças são deixadas à entrada dos infantários. Não quer dizer que seja no exterior; significa que não circulação ampla dentro dos edifícios por quem vem de fora e que se cria uma zona suja e uma zona limpa.
É natural que, à chegada, peçam para lhes medir a temperatura e que peguem no que deixarem lá para desinfetar (como embalagens de fraldas, toalhitas, etc).
Além disso, devem existir dispensadores de solução à base de álcool para a desinfeção das mãos à entrada e à saída da creche. Todas as pessoas que frequentem o espaço devem utilizá-las. Podem fazer isto à chegada e quando saírem. Eu gosto de ter álcool gel no carro, por isso mal chego ao carro depois de ter estado em algum sítio, desinfeto as mãos caso não o tenha podido fazer antes.
Calçado próprio para a creche
Uma medida que alguns sítios já promoviam era a utilização de um calçado no infantário e outro na rua. Assim, nos espaços que as crianças usam durante a maior parte do dia, e onde contactam mais com o chão, não deve entra o calçado que é utilizado na rua. Desta forma, deve haver na zona “suja”, um sítio onde as crianças possam trocar de calçado e o que tiram fica guardado nessa mesma zona. No caso do infantário onde andam as nossas filhas, foi pedido que levassem um par de calçado extra para usarem exclusivamente na creche. Não pediram nada de especial, apesar de saber que há outros sítios que pedem que seja algo que possa ser lavado na máquina, que seja só em borracha (tipo Crocs), etc.
Esta orientação também se aplica aos funcionários do espaço.
Os brinquedos pessoais ficam em casa
Esta medida é compreensível, apesar de custosa para algumas crianças. Mas tem que ser. O que podemos fazer, antes de mais, é não perguntar à criança se quer levar algum brinquedo no carro. Desta forma, pode ser que não se lembrem do amiguinho que antes o costumava acompanhar.
Já nas salas, sendo que é pouco natural que uma criança não partilhe brinquedos, os funcionários terão que garantir a lavagem regular dos mesmos, e tentar desinfetá-los entre utilizações. É um ponto difícil, mas isso, combinado com a lavagem regular das mãos das crianças, vai ajudar a que o risco de contágio minimize.
E se houver um caso suspeito de Covid-19 na creche?
As creches devem estar equipadas com um espaço que possa ser utilizado como isolamento no caso de haver suspeita de Covid-19. Caso os encarregados de educação sejam informados de que a criança pela qual são responsáveis é um caso suspeito da doença, deverão entrar imediatamente em contacto com a linha SNS 24 (808 24 24 24) e ir buscar a criança à creche, caso ainda lá esteja. (As medidas indicam que poderá ser a própria creche a fazer esse contacto com a linha Saúde 24).
Sempre que há um caso suspeito – mesmo que não seja o seu filho – todos os pais serão informados. Além disso, as crianças não podem ir doentes para a escola. Seja “apenas” com tosse, diarreia, vómitos ou manchas; numa situação normal, seria comum irem para a escola, porque se facilita e não são situações que, geralmente, apresentem um elevado risco de contágio de alguma doença. Nesta altura, é imperativo que não o façam.
As creches são instituições de amor e de valorização da vida
Acredito na frase acima. Acredito que os profissionais dessa área merecem o nosso apoio, especialmente se somos parte das famílias que já contavam com eles diariamente. Irão fazer o melhor pelas crianças, cumprindo as normas que são necessárias nesta situação.
Vou rematar deixando claro que, em casa, com duas filhas pequenas e dois pais em teletrabalho, o apoio que lhes damos é claramente inferior ao que elas necessitam. É assim por força das circunstâncias e a culpa que carregamos é superior ao que alguma vez imaginaria.
Tenho, neste momento, duas crianças com um percurso de desenvolvimento praticamente parado porque os pais têm que trabalhar. A mais velha, que ainda nem 3 anos tem, anda triste a deambular pela casa. Tudo a emociona, nada a prende. A mais nova, que fez um ano na semana passada, travou no desenvolvimento motor porque os pais não conseguem incentivá-la mais.
É por estas razões que eu as vou mandar para o infantário. Podem dizer-me que é super impessoal, que os profissionais estão a ser maltratados por causa destas medidas de distanciamento, que a creche vai passar a ser um depósito de crianças. Já li de tudo nas redes sociais, já vi 30 petições diferentes só por causa disto e não assinei nenhuma (há as a favor, as contra, as “nem um, nem outro, msa também quero uma petição para mim”…). Esta situação de emergência, calamidade, proveniente da pandemia da Covid-19 veio trazer o separatismo da sociedade. Tudo tem algo por onde se pegue negativamente. O que importa é gritarmos a todo o lado que quem fez as regras não percebe nada do assunto. É triste, é desesperante e já me deu a conhecer mais de muita gente do que eu quereria conhecer. Já li até sobre os pais que querem que os filhos voltem às escolas serem uns egoístas. Li e adorei ver como a capacidade de reflexão de algumas pessoas foi claramente toldada pelo facto de estarem isoladas e de, aparentemente não haver grande resposta do outro lado, por isso podem dizer o que quiserem. Enfim.
E, no meio disto tudo, acredito que lhes fará melhor este regresso a uma rotina alterada do que continuarem confinadas às paredes de casa com pais que não conseguem cumprir com as exigências normais das idades delas. Vos garanto que me podem apontar o dedo e insultar-me com o vosso melhor repertório, mas nada – nada – do que me disserem se irá sobrepôr a todo o processo de gestão e de decisão sobre as minhas filhas. Não foi uma decisão fácil, mas tenho a certeza de que será a melhor.
A creche nunca será um depósito de crianças; para mim, independentemente das distâncias físicas e das máscaras, será sempre um local de valorização da vida e de amor à criança.
Foto: Unsplash
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