Chorei muito!

Parece que há um estigma em partilhar o quanto se chora nos tempos a seguir ao parto. Não há razão para ser um tabu nem uma vergonha tão grande como senti que é.

A verdade é que é difícil por vários motivos – sejam eles quais forem que mais nos custem, temos todo o direito a chorar e a extravazar quando assim sentirmos necessário. E isto sem ter que ouvir o “ninguém disse que ia ser fácil” ou o “não chores… mas por que é que estás a chorar, se devias era estar feliz?”.

“Olhem, estou a chorar porque me apetece, mas que porra.”

Primeiro, era a amamentação. A cada mamada doía-me tanto que me parecia que estavam a passar vidros pelos mamilos em vez de leite. Além disso, ter pouco leite não ajudava, porque frustrava a pequena que queria beber e não conseguia. Aí já chorava de desalento e tristeza – “será que ela não gosta de mim, do meu leite ou sou eu que a frustro?”.

Depois disso, foram os dias em casa com uma criança que só comia e dormia. Dormia no colo às meias horas seguidas, mas pousada estava sempre acordada. Não a chorar, mas acordada. Portanto, não conseguia fazer nada. Se a tinha no colo, não me podia mexer muito; se não estava no colo, estava acordada, logo não podia sair da beira dela.

Começou a desenvolver e a ser mais interessante passar o dia com ela, mas continuei a ter horas lavadas a lágrimas. Desta vez porque realmente toma 100% do meu tempo e disposição. Um dia normal implica inventar várias brincadeiras, evitando que ela esteja deitada ao máximo (porque tem uma ligeira plagiocefalia a diminuir e queremos que assim continue) e estimulando todos os seus sentidos. É extenuante. É ficar sem qualquer tempo para nós, nem para ir à casa-de-banho. E não, não se aplica o “quando o pai chegar, sai de casa e vai dar uma volta”. Com os nossos horários, não dá, não.

Disseram-me e é verdade que é como fazer o luto de nós mesmas. Amo a minha filha incondicionalmente, mas sinto-me a precisar de tempo para mim, de desligar de tudo e de conseguir ser útil (ou simplemente ser eu). Não é por vaguear por uma hora sem rumo que isto vai passar – na verdade, ainda me frustra mais. Sem qualquer independência, vejo-me a lutar para passar os dias em casa, tentando pelo menos que o meu esforço seja bem empregue.

Até ao momento, sei que ela tem desenvolvido bem e que ao menos nisso estou satisfeita. Mas continuo a sentir falta do resto: falta de trabalhar, de fazer coisas de que gosto, de não me sentir anulada na minha própria casa.

Não sei como vai ser para a frente, mas a minha aposta é que isto só vai “passar” quando voltar ao trabalho e entrar na rotina casa – trabalho – (infantário -) casa e quando não sentir que a licença é uma obrigação para a mãe e uma necessidade para a criança.

No meio disto tudo, questiono: e o papel do pai? Há também pais a sentirem-se como “mães” desta forma? Ou é inevitavelmente mais leve para os pais?

Aguardo os vossos comentários.

 

~a

3 thoughts on “Chorei muito!

  1. Acho que chorar é importante e não tem mal em assumir isso. Não sou mãe ainda, mas as amigas que já foram mães também passaram um mau bocado ao início. Parece que não há tempo para elas e algumas entraram mesmo em stress. É bom libertar estas coisas e assumir que apesar do amor que se sente por um filho também é importante olhar para nós mesma. Grande abraço 🙂
    https://reflexoseperspetivas.blog/

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