A nossa bebé foi muito desejada, tanto que estivemos a tentar durante mais de 1 ano que eu engravidasse…até que o ano passado, numas férias, a coisa pegou..!
A minha gravidez correu normalmente até às 34 semanas (quando a Lara virou), onde tive ameaça de parto prematuro.
Eu estive internada uns dias, a levar picadas para a maturação pulmonar da Lara e a tomar uns comprimidos para que as contracções parassem.
Eu saí do hospital bem mas não muito convencida que a partir de ali a Lara fosse ficar muito mais tempo no meu forninho.
Na semana em que eu ia completar as 36 semanas (no sábado), começou mal…
Comecei a semana com dores no fundo da barriga e umas dores no recto muito fortes como se me tivessem a espetar uma agulha por aí a cima.
Terça-feira, fui ao obstetra que me mandou ir ver o gastrenterologista de urgência porque podia ser hemorróida trombosada (acontece a muitas grávidas que sejam muito presas do intestino).
Fui ao gastrenterologista, que fez colonoscopia no próprio dia e reparou que havia um aglomerado de fezes duras e achou que fosse isso o problema.
Tomei várias coisas para evacuar, mas as dores foram piorando.
Quarta-feira à noite, eu tive um pico de febre e, de repente, parecia que não tinha nada, então fiquei por casa a descansar.
Quinta-feira, dores horríveis novamente. Fui às urgências do hospital público onde pretendia ter a Lara.
Apanhei uma médica que à força toda queria me rebentar as águas ao fazer o toque, pois doeu tanto e fez tanto força que me empurrou quase da maca fora…
Não conseguindo, mandou fazer análises e descobriram que eu tinha a proteína C reactiva muito elevada.
A proteína C reactiva (PCR) se estiver elevada, indica a presença de algum processo inflamatório ou infeccioso.
No hospital não sabiam o que fazer e mandaram-me falar com o meu obstetra.
Sexta-feira, liguei ao meu obstetra que me mandou ir às urgências do hospital privado onde eu era seguida por ele.
Fui logo de manhã à urgência de obstetrícia com as análises que eu tinha feito no dia anterior.
Saí de lá ao fim da tarde, igual… Viram que o PCR ainda estava mais elevado que no dia anterior mas mandaram-me para casa com paracetamol e um comprimido para as dores em SOS.
Sábado ao jantar, fui à casa de banho, onde saiu um líquido transparente pelo meu rabo e deu-me uma dor forte por baixo da barriga.
Deixei de conseguir andar, as dores eram tantas que o meu marido teve de chamar uma ambulância.
A ambulância levou-me para o Hospital de Santa Maria.
Tiveram a noite toda até às 4h da manhã a fazerem exames para entenderem o que se estava a passar, uma vez que eu não estava em trabalho de parto.
Não descobriram nada mas avisaram que eu ficava internada.
Domingo de manhã, eu não conseguia comer nada, deram-me uma pêra e vomitei-a toda.
Doía-me a barriga toda, as enfermeiras ajudaram me a ir tomar banho e eu nem conseguia passar as mãos pela barriga que doía…
Domingo à tarde, retomaram os exames e ao fazerem uma ecografia ao abdómen descobriram uns líquidos estranhos que não deveriam estar ali.
Domingo às 19h e pouco, os médicos vieram nos dizer que tinham de me operar de urgência sem saber muito bem o que se esperava, iam tirar a Lara e depois iam cuidar de mim.
Fui mãe às 20h32 de uma bebé linda, chamada Lara, mas que eu não conhecia…
Acordei nos cuidados intensivos, já era muito tarde, mas o meu marido quis mostrar-me uma fotografia da nossa filha.
Eu adormeci com a imagem dela na minha cabeça.
Eu estive internada quase 1 mês no Santa Maria.
Tive uma peritonite, que é uma infecção no abdómen, e o intestino estava todo inflamado.
Eu estive quase 3 semanas de barriga aberta, em que mais ou menos de 2 em 2 dias, eu ia a bloco.
A minha bebé esteve 1 semana na Neonatologia, felizmente correu tudo bem com ela.
Eu não pude estar com a Lara enquanto estive internada.
No dia da Lara sair da Neonatologia, as enfermeiras foram umas queridas e deixaram o meu marido trazê-la no ovo, mas teve de ficar longe de mim.
Chorei muito enquanto estive lá internada.
Tive raiva de tudo o que me estava a acontecer e tinha ciúmes de quem podia estar com a Lara.
Estar numa cama, de barriga aberta e ter um saco na barriga para as fezes saírem, para mim, era nojento. Eu tinha nojo do meu corpo.
Como sabem o Santa Maria é hospital universitário… o que quer dizer que andam por lá os Professores Doutores a ensinar.
Estar na cama, a sentir me mal, a chorar e vir o Prof. Dr. com os seus alunos a fazerem de mim uma montra, quando só te apetece estar no teu canto e chorar…foi uma das coisas que mais me marcou… é horrivel… mas há tantas e tantas coisas que nos marcam quando se está nesta situação que não há maneira de descrever tudo isso aqui.
Nessa altura, o que me salvou da loucura, foram os amigos, a família e até as enfermeiras que, não parecendo, têm um trabalho muito complicado e mesmo assim estavam ali para mim, para me con
solar quando eu precisava. Engraçado é que aquelas pessoas que por vezes mais contamos com elas, são as que não estão presente e as que menos contamos, são as que estão presentes. Tive imenso e ainda tenho imenso apoio.