Há vários momentos na experiência toda da maternidade em que nos questionamos “E agora?”. Mas há dois que são mais marcantes, pelo menos para mim foram.
O primeiro é quando nos cai a ficha de que vamos ser pais e o segundo é quando a criança nasce. Passa tudo pela cabeça e, de repente, sentimo-nos um grão de areia minúsculo com uma tarefa hercúlea a tratar, à qual queremos responder a 500%.
Este último “E agora?” durou vários dias (um par de semanas talvez), durante os quais me tentava habituar à ideia de já não estar grávida, de perder qual rotina que fosse e de conseguir lidar com o início do pós-parto.
Foi um choque para mim quando, ainda na sala de partos, me disseram “Já viu? Já não tem barriga!”. Levei as mãos à barriga e senti um vazio (para além do literal vazio, claro). Foi o momento um da nova relação com o meu corpo. Outra nova relação em poucos meses, phew.
Recapitulando só um pouco, eu tive um parto normal com episiotomia. Não fazia ideia de como seria a recuperação, porque só tinha exemplos de cesarianas ou episiotomias feitas com maior pressão no canal de saída do bebé, e essas são mais longas normalmente. Ora bem, voltando ao dia do parto…
Nesse dia, senti algum desconforto – nunca tinha levado um único ponto na vida, estava exausta etinha ficado com umas hemorróidas terríveis. E esta é a parte de que poucos falam.
Nos dias seguintes, até fazer uma semana, tomei apenas a medicação básica (Ben-u-ron e Ibuprufeno). Os pontos chateavam não pelas dores, mas porque estava calor, davam uma comichão danada e não ajudava nada ter as amigas hemorróidas ao lado – andei sem posição para me sentar durante dias.
Felizmente, ao fim de uma semana, tirei os pontos (alívio número 1) e como não tinha melhorado das amiguinhas, comecei a tomar Daflon e em 4 dias estava como se nada se fosse. Feitos 15 dias do parto, sentia-me perfeitamente normal.
Perfeitamente, exceto… Já ouviram falar das “dores tortas”? É o nome comum para a compressão do útero nas semanas após o parto. No meu caso, de dores não tiveram nada, porque o que sentia era uma contração momentânea. No entanto, essas contrações, para o meu cérebro, eram como se estivesse um bebé dentro da minha barriga. Mas não estava; está cá fora. Semanas disto, é muito confuso! E triste. Triste não por não amar a bebé que já tinha nos braços, mas porque este novo corpo não estava a corresponder com o que a minha mente sentia.
Para além dessas contrações, as hemorragias próprias duraram cerca de 3 semanas. 1 ano sem menstruação para depois estar 3 semanas assim já me estava a chatear.
A parte física tem um papel muito importante em todos os sentimentos no pós-parto, influenciando umas mães mais do que outras, mas a parte emocional diria que se sobrepõe às dores físicas que possamos ter.
Não sei se imaginam as vezes em que me senti insuficiente e a falhar até agora. Em 3 meses e meio já muito mudou e já estamos numa fase mais calma, mas toda a nova rotina e falta de tempo e energia fez com que eu me anulasse e que qualquer minuto do dia fosse um grande esforço.
Há tantos eventos para grávidas – por que é que não os há para recém-pais? Coisas simples que até nos obriguem a sair de casa e fazer alguma coisa útil! Fica a ideia 🙂
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