Hoje, a notícia (o vídeo) do rapaz que, ao fugir de colegas que o agrediam, foi atropelado, levanta novamente todas as preocupações sobre o bullying.
Para quem não está a par – e não partilhando o vídeo, porque se o quiserem ver e ficar de nervos em franja, é só procurarem um pouco ou verem o telejornal -, um rapaz foi perseguido por um grupo de colegas da escola, ao ponto de, para se conseguir afastar da que corria atrás dele, se mandar para estrada, acabando por ser atropelado.
Dizem as notícias que, fisicamente, sofreu ferimentos ligeiros e que as colegas do grupo que o perseguia foram já identificados. No vídeo que vi, em que foi filmado por uma das raparigas, que depois partilhou nas redes dela – e por aí se disseminou -, ainda se ouve uma delas a dizer à maior que “isso é bullying” e “ele está a chorar”. Mas foi só isso que fizeram – não a pararam. Por medo ou por serem capazes de fazer o mesmo é que já não sabemos.
Por menos ferimentos que o rapaz tenha sofrido, isto deixa mazelas para a vida.
E mais ainda: vêm o colega a ser atropelado e seguem na vidinha delas. Completa covardia (mais medo à mistura, porque fizeram asneira da grossa, além de tudo ser bastante doentio para mim).
É daquelas coisas que, a nós, pais, foge do controlo. Damos a melhor da educação aos nossos – pelo menos eu tento acreditar que sim – e, no meio muitos miúdos, há vários que vão massacrar e gozar os outros. Peço que não aconteça às minhas filhas – nem serem assediadas, nem assediarem -, mas sei que é das coisas que me vai fugir muito das mãos, e que vou ter que pôr a crença nos valores que lhes passamos para que, em alerta nestas situações, falem com alguém.
Dificilmente vejo estes casos com explicações únicas. Não sou psicóloga, nem pediatra, nem pedagoga para fazer juízos mais analíticos que fujam muito à minha visão. Sei que conheci – e conheço – bullies e quem tenha sido alvo deles.
Eu tive colegas bullies – tentavam gozar e ir pegar comigo por ser gorda ou não ter coisas fixe, mas como não dava trela visível, apesar do que me custava esconder, acabavam por desistir. Também tive bullies em empresas – numa delas, a miúda fez tão bem a folha que eu até cheguei a ser despedida – o que ela não imaginava é que aquilo não foi tão bem pensado assim e ela também foi dispensada ao fim de um par de meses, além da queixa que fiz sobre a empresa.
No meu primeiro ano numa outra empresa, tinha bullying diário de colegas de equipa e até de uma chefia. Ao fim de um ano, numa mudança que eu não podia prever, e numa altura em que eu já tinha a saúde em risco e a carta de rescisão pronta a ser entregue, eis que surge uma nova equipa e eu nela.
Mas, apesar de tudo o que me custou isto, fui saindo melhor do que muita gente. Vi muitos casos na escola em que eu, a minorca da turma, é que fazia a ação de distração ou a queixa aos professores, sobre os bullies.
Agora, vejo esta notícia e essas memórias voltam. Penso nas minhas filhas, nas suas personalidades e nos cenários todos. Penso que a mais velha é mais fechada e quando sai do “normal” dela é muito difícil trazê-la de volta ao ponto de calma. Está já numa idade em que teremos que trabalhar com ela os mecanismos de defesa (dela e de outros que ela pense em auxiliar.) Penso que a mais nova é doce – e também brutinha -, com um feitio mais marcado, e que espero que consiga extrapolar essa força para ajudar um amigo que precise ou para afastar alguém que a tente magoar.
Acima de tudo, espero que ambas consigam ter a lucidez de pedir ajuda nestas situações, porque o medo faz com que se fechem, com que fiquem numa vergonha que não devia ser delas, e escalar só vai aumentar as fragilidades para que um bully ataque.
A complexidade é esmagadora.