O tema de hoje é-me particularmente querido e nunca tinha escrito aqui sobre ele: Fotografia. Mais concretamente, vou deixar-vos aqui algumas dicas – espero que úteis – para fotografarem crianças. Pode ser uma tarefa cansativa, que nos deixa de cabeça em água se não correr como esperamos, quando tudo o que normalmente queremos é ter umas memórias porreiras dos nossos pequenos sem termos que recorrer a terceiros. Ante sde continuar, vou já dizer que não tenho problema nenhum em contratar terceiros, até porque eu já fui um desses terceiros 😉 Há já alguns anos que não fotografo (profissionalmente), e, ultimamente nem em casa tenho pegado na máquina fotográfica. Vá lá, sintam aqui a minha dor 😉
Ainda assim, não quis deixar de escrever sobre isto.
1. Aproveitem algo que os mais pequenos adorem
Por exemplo, a propósito do Carnaval que ainda mal terminou, há muitas crianças que gostam de se mascarar e de brincar ao faz de conta, entrando até mesmo na personagem muito naturalmente. Podemos elevar o que seria apenas mascararem-se e decorarmos um espaço mais temático, de acordo com as roupas deles, para que possam ser mais teatrais. Depois, é dar-lhe liberdade para brincarem enquanto nós registamos. Todos ganham 🙂

2. Usem uma poltrona e dêem-lhes uma tarefa
Se tiverem uma poltrona ou cadeirão em casa, ponham os miúdos lá e dêem-lhes uma tarefa. Esta dica, assim como a primeira e outras que ainda aqui irão ler, funcionam melhor com duas ou mais crianças – ou então uma criança e outro adulto. Mas não significa que não consigam fazer coisas giras com uma criança sozinha. Idealmente, devem ter alguém por perto que vá observando a criança; apesar de estamos a fotografar e de vermos uma parte da cena, nem sempre vemos tudo e assim evitamos acidentes. Podem fazer como na primeira foto abaixo, em que têm os irmãos mais velhos a segurar a irmã mais nova, ou brincarem com os mais pequenos na cadeira da papa, jogando com as profundidades e expressões. 🙂
O truque aqui é mais sobre o espaço e o ângulo 😉


3. Pô-los a correr, dar-lhes liberdade!
É muito fácil ver os miúdos a perder o interesse e ficarem cansados antes de termos uma dúzia de fotos de que gostamos. Já todos passámos por isso, descansem, porque faz parte. Mentalizem-se.
No entanto, antes desse ponto, normalmente há ali alguma energia pronta a ser utilizada e nós podemos tirar o melhor partido dela, deixando os miúdos correr e saltar. Podem até fazer algumas escaladas mais aventureiras, ou entrar na água fria da praia, mas nós vamos capturar momentos verdadeiros e únicos se os deixarmos estar à vontade! Quer seja ao ar livre ou dentro de casa, é deixá-los serem um pouco selvagens (no bom sentido ;)) e despreocupados, para apanharmos grandes sorrisos!
Com sorte, quando a energia se for, poderão conseguir tirar fotos de momentos mais calmos, porque eles também não terão tanta energia para irem contra o que lhes pedirem com tanta facilidade 😉



4. Chamem um amigo
(Já sabemos que devido à Covid-19 o recomendado é ficarmos em casa, mas pensem nestas dicas como algo a longo prazo.)
Ponham este cenrário: vocês querem fotografar o vosso filho ou filha, mas querem que haja mais para além deles no momento. Querem capturar a felicidade e liberdade que têm quando estão com o melhor amigo ou aquele primo inseparável.
Marquem uma manhã ou tarde e juntem-nos. Podem até nem ter um tema, mas criarem uma ligação visual entre eles (abaixo, no exemplo, é o vestido e o cabelo solto). Deixem-nos brincar, correr, divertirem-se e vão perceber que em 2 minutos eles nem se lembram de vocês e a fotografia vai surgir naturalmente 😉

5. Façam um jogo / brincadeira
Não os façam posar, ponham-nos a brincar! Jogos de escondidas, por exemplo, são um exemplo ótimo de como capturar um rosto sorridente com crianças pequenas, sem grande esforço! Brinquem com ângulos, com cima e baixo, com tecidos e objetos,etc.
Perguntem-lhes se eles querem correr para vocês e contem até 3 para dar a partida. Muitas das vezes, isto funciona, porque as crianças se distraem da tarefa e da máquina fotográfica e começam a correr, sorrindo!
Outra ideia é porem o pessoal à procura de alguma coisa. Imaginem que estão num jardim, então podem dizer algo como “Encontrem uma flor vermelha!” ou “Tragam-me uma pedra com uma forma engraçada”. Num instante, não só se esqueceram de vocês como até podem estar a trabalhar em equipa.



6. Deixem-nos fotografar
As crianças aprendem imenso por imitação dos adultos, por isso é normal que queiram trocar de papel connosco (ou simplesmente ter o mesmo papel que nós). Deixá-los pegar na máquina fotográfica ou no telemóvel para tirar uma foto é algo que funciona lindamente com a minha filha. Estamos a falar de ser algo supervisionado, a menos que lhes queiram dar para a mão uma peça sem grande valor ou até uma câmara descartável. Assim ficam mais descansados se cair ao chão 😛
Podem tirar-lhes fotos enquanto eles fotografam 🙂


7. Atirar ao ar
Há pais que estão habituados a mandar os seus filhos ao ar (como o meu marido) – sempre com o devido cuidado, claro 😉
Podem experimentar isso, que é tão simples! Tentem apanhar todo o movimento: o lanço, a subida, o ponto mais alto, a descida e o abraço final!
Aqui, o maior segredo é apanhar o momento em que a criança começa a descer, porque, inevitavelmente, vai olhar para o pai/mãe ou para a câmara – porque, à partida, são as duas pessoas mais próximas. Vão ficar com fotos divertidas, humildes, com interação e muito naturais.



8. Promover a interação
Nas sessões de recém-nascidos, quando havia irmãos por perto, pedi sempre aos pais para os incluir nas fotografias. Se forem crianças pequenas, podemos pedir para falarem com o bebé, apontar o narizinho, contar os dedos, etc. São coisas muito pequenas mas que lhes valem o mundo! Pode acontecer de não quererem cooperar, e aí deixamos esse plano de lado e seguimos com outro tipo de fotografias. 😉


9. Fotografem-nos enquanto estão a fazer algo mais demorado
Por exemplo, preparem uma tarde de pinturas, colegens ou de outra atividade que os miúdos gostem. Num instante, esquecem-se de vocês, especialmente se tiverem outra pessoa por perto que os auxilie quando eles precisarem. Eles embrenham-se no que estão a fazer e a máquina fotográfica torna-se completamente irrelevante.
Quanto mais eles se divertirem, melhores fotos – e mais verdadeiras! – vocês conseguirão. Sendo uma atividade pensada de antemão, é importante que tentem preparar o espaço para terem uma luz adequada e espaço para todos se movimentarem.


10. O palco é deles!
Se os vossos filhos gostarem de vos mostrar as suas habilidades, podem perfeitmente pedir-lhes para o fazreem para vocês verem. Às vezes, podem ser mais envergonhados e não gosatarem da ideia de fotos e vídeos enquanto atuam para vocês, mas podem colocar a máquina fotográfica numa zona que capte alguns ângulos bem e utilizarem um disparador remoto para não interferir na atuação. 😉 Se fizerem isto até conseguem entrar nas fotos 🙂 A desvantagem é que ficam mais presos, mas se houver diversão, de certeza que vale a pena o esforço!


11. Organizem a hora da leitura
Normalmente, a hora da leitura é mais calma e tem alguns momentos de imaginação que pode ser giro captar. Permite-vos, acima de tudo, terem pais e filhos juntos – por isso, e para também entrarem na foto, dêem novamente uso ao disparador remoto, coloquem a máquina num móvel ou atrás de uma porta entreaberta de um armário, e disparem de vez em quando. Quando estiver a passar a altura da calma toda, podem ir buscá-la e tirar fotos mais próximas 😉

12. Durante a sesta
Crianças maldispostas e sesta são duas coisas que andam muitas vezes de mãos dadas, certo?
Aproveitem então a hora da sesta para lhes tirarem algumas fotografias. (Se fosse outra pessoa, poderia ser estranho, mas vocês são os pais :P) Desde que tenham alguma luz, pode ser que consigam algumas fotos super fofinhas.
Dependendo das rotinas da sesta, se calhar até conseguem criar uma mini-história sobre a hora da sesta. Há crianças que têm o hábito de ouvir música ou de ler uma história antes de dormir – tentem apanhar isso.
No caso de acharem que o barulho da máquina fotográfica os vai acordar, têm um algumas opções: ou esperam pelo fim da sesta para lhes tirarem fotos enquanto dormem, ou fotografam longe (de fora da divisão, se não for extraordinariamente longe e não tiverem barreiras) ou então vestem a vossa máquina fotográfica com uma camisola, por exemplo, por forma a que consigam operá-la na mesma mas que o ruído seja abafado.
Caso o ruído não eja problema, então ótimo, porque podem explorar perspetivas diferentes (como tirarem fotos de cima, dos pés para a cabeça, mais próximos e mais afastados, etc).


13. As birras também podem ser registadas
Normalmente, mostramos as fotos todas animadas e felizes, mas a verdade é que as birras também fazem parte do nosso dia-a-dia. Não estou a dizer para irem a correr fotografar quando estão a meio de uma birra épica, porque se calhar o melhor é irem acalmá-los, mas caso estejam a fazer alguma coisa que envolva fotografia e eles façam uma cena digna de registo para replicação no teatro mais próximo, então força nisso.
Até porque a parte boa é que, depois de uma birra costuma vir o consolo e o mimo e também podem apanhar isso. Abaixo têm exatamente: a birra e o consolo 😉




14. Fazer uma pausa (ou como fingir que minimizamos o interesse)
Os miúdos não querem participar na vossa atividade ou já estão cansados dela? Há sempre aqui uma técnica que é uma mistura de “fazer um intervalo” com “pronto, vai lá embora” que resulta bem, por vezes.
Dêem-lhes essa abertura, digam “Sabe que mais? Podes sair, eu vou continuar aqui a tirar fotografias a… (ao bolo que estão a fazer / à tua irmã / ao papá / etc). Podes ir embora brincar, ok?”
É quase certo que não mostrarmos interesse ou retirarmo-los do que estamos a fazer lhes cria mais curiosidade e, pouco depois, eles vêm espreitar o que estamos a fazer 😉


15. Sejam resilientes e esqueçam a perfeição
Em de estarem focados naquela foto “perfeita” dos vossos filhos, preocupem-se antes em darem-lhes espaço para que algo especial aconteça, algo até inesperado.
Mas de mente aberta para que até nada aconteça – e está tudo bem. Vejam se o sítio onde estão tem luz suficiente, se têm espaço de manobra, e depois estejam preparados 🙂
Se estiverem a fazer algo mais parecido com uma sessão fotográfica do que a tirar apenas u a registos, preparem também umas moedas de troca. Pode ser um brinquedinho novo (aquelas saquetas de mini figuras, por exemplo, ou umas canetas novas dependendo do que eles gostarem), uma guloseima, algo que sirva num momento mais difícil para que a criança colabore. Ou, se não for necessário, podem dar como recompensa surpresa no fim 🙂



Algo que apanhava muito nas sessões que fazia com crianças era o pensamento dos pais que queriam apenas fotos maravilhosas dos filhos.
São coisas que não acontecem só porque sim, e havia frequentemente uma lacuna nessa fórmula: os pais têm que fazer parte da equação. Vocês conhecem os vossos filhos como ninguém, e além disso, são quem tem as coisas deles. Eles podem estar com frio, com calor ou assustados e há muita coisa que o fotógrafo percebe. E, claro, trabalha com os pais.
Mas nada substitui a presença e interação com os pais nestas alturas. Podem precisar de um estímulo ou de uma abraço. Era frequente eu ter que chamar os pais para entrarem em cena e se aproximarem. Por isso, pensem nestas coisas – vocês são parte da fotografia 🙂



Espero que estas dicas vos ajudem, srm pressões, a tirarem mais fotos aos vossos filhos. Não falei de material até aqui, porque isto não é um curso; são dicas que podem utilizar independentemente do vosso material fotográfico. Eu tenho máquinas full-frame e várias lentes mas neste momento praticamente só tiro fotos com o telemóvel. E porquê? Porque é mais prático e rápido 🙂 mas não dispenso as minhas máquinas 😉
Aproveitem o #fiqueemcasa e tirem fotos 📸