Conheci a Mariana num casamento quando ainda estava grávida da minha primeira filha. Foi uma das pessoas que me fez sentir tranquila quanto ao processo e quanto ao parto. Foi quem me introduziu ao babywearing. Quem me ouvir dizer isto julga que nos conhecemos bem, mas na verdade só estivemos juntas nesse dia por uns minutos. Falou-me da comunidade de babywearing e da página dela e a desde então que sigo ambos.
Hoje é a vez dela dar a voz a mais um testemunho de mulher, mãe, guerreira. Gosto imenso destas palavras porque são elas que dão a voz ao que é pouco falado nas nossas vidas (às vezes até nos falta tempo para respirar, mas se nos vamos queixar ainda perdemos mais tempo, não é?).
Obrigada, Mariana!
“Chamam-me Mariana, mas só oiço o meu nome meia-dúzia de vezes num dia. As outras 1590 sou a mãe, mamã e amor.
Em Janeiro de 2014, trabalhava por conta de outrem, era efectiva e estava a meio de um processo de divórcio. Tinha na altura 2 filhos, a Sofia com quase 3 anos, e o Artur prestes a fazer 1. Não me lembro exactamente como sobrevivi, mas recordo-me que após pagar as contas tinha 70€ por mês. Era muito difícil. Entretanto, em Março desse ano a minha empresa perdeu o concurso e houve um despedimento coletivo. Na altura confesso que me souberam bem as férias. A Sofia estava no infantário, o Artur passou a ficar comigo.em casa e uma ou duas vezes por semana com a avó. Começava a aventura!!
Entretanto, apaixonei-me por aquele que viria a ser o meu companheiro e pai dos meus filhos. Não tivemos tempo de namoro, tínhamos sempre crianças, hehe. Eu procurava trabalho, mas não encontrava nada compatível com ter filhos. O meu companheiro trabalhava por turnos, eu não podia trabalhar por turnos também. Quem é que ficava com os miúdos? Os meus pais ajudavam, mas não tinham disponibilidade total, também eles trabalham.
Só um ano depois arranjei um trabalho, mas a vida pregou-nos uma partida e engravidei do Xavier logo a seguir. Comecei a ser alvo de perseguição e ameaças numa tentativa de me despedir, mas tendo gravidezes de risco acabei de baixa. Foi nessa altura que juntos tomamos a decisão. Eu iria passar a ser mãe a tempo inteiro enquanto ocasionalmente faria acompanhamentos de doula e amamentação, o que, em teoria, era totalmente compatível com ser mãe a tempo inteiro (ou não??).
Não, não é. Se inicialmente o Xavier ia comigo, quando começou a gatinhar passou a ser impossível. Ele não fica quieto 2 segundos!!
Portanto, tinha sempre que arranjar um dos avós para ficar com ele, mas eles trabalham. Era tão frustrante.
Fast forward no tempo, em outubro de 2018 nasce a Helena, a caçula.
Neste momento, tenho a Sofia com 8 e o Artur com 6 na escola primária. O Xavier com 3 anos e a Helena com 11 meses em casa. Ao mesmo tempo giro a página da Mãe ao Cubo +1, onde tenho que fazer gestão de uma fraldoteca e onde produzo fraldas reutilizáveis. Ao mesmo tempo, não posso deixar que as pessoas se esqueçam de que sou consultora de babywearing, assessora de lactação e doula. Implica, para além do trabalho na máquina de costura, muito planeamento, vídeos, fotos, posts, publicidade, etc. É muito tempo agarrada ao telemóvel.
Sou só eu. Não há empregada doméstica, não há educadora de infância. Os meus dias andam sempre ao sabor dos horários do meu marido. Acordar às 7h30. Com sorte só o Artur ainda está acordado, e beber o meu café em silêncio. Acordar toda a gente, preparar lanches, vestir, dar de mamar, levar à escola às 9h.
Ir às compras, parque, voltar, lavar roupa, recolher e dobrar a de ontem, limpezas, tentar costurar, adormecer a Helena, fazer almoço. Ir buscar miúdos às 13h. Dar almoços, preparar lanches, levar à escola, voltar, adormecer os pequenos. Com sorte consigo estar 30 minutos em frente à máquina de costura. Bebo um café sossegada na varanda, são os meus minutos de paz.
Nisto já são 16h. Acordar miúdos, dar lanche, limpar, ir buscar os irmãos às 17h. TPC, banhos, jantar, brincar, história, dormir.
Dormir. A Helena acorda de hora a hora. Ultimamente, demora 1h a adormecer. Já não consigo fazer nada à noite. Ando sempre cansada, desmotivada, farta de filhos. Tenho saudades de trabalhar fora de casa, ter horários, um ordenado certo ao fim do mês. Mas não compensava neste momento. Embora estejamos a fazer uma ginástica enorme para pôr comida na mesa, financeiramente eu trabalhar fora implicaria pagar 2 infantários e ATL para os mais velhos. E quem ia às consultas? Tratar do pagamento atrasado da água? À segurança social?
Quem ajudava nos TPC? Quem ajudava as mães?
Na verdade sou.o cúmulo da desorganização, passo o dia a fazer coisas e ao final do dia não fiz nada. É este o sentimento que tenho todos os dias. Tenho saudades de falar com adultos, de ter aquele tempo nos transportes para mim. Tenho saudades de ouvir música com fones. Coisa tão parva, mas não o posso fazer, tenho que estar sempre atenta aos miúdos.
Sou a Mariana, tenho 30 anos, sou mãe a tempo inteiro há 5 anos, dona de casa há 10, esposa e amante há 5 anos e trabalho por conta própria na página Mãe ao cubo +1. Sou tudo e não sou nada.”
Ide à página da Mariana e vejam o trabalho que ela desenvolve. Ela responde às vossas dúvidas sobre as fraldas reutilizáveis, sobre babywearing, sobre amamentação, faz reviews e ainda tem família e casa para tratar…. e saibam que do outro lado está alguém com uma voz muito querida (só assim para melhorar a coisa!). 🙂