Amanhã o pai volta ao trabalho. Sim, um mês já passou, assim como a licença inicial do pai (os 25 dias úteis) e agora voltará ao trabalho como se nada se passasse.
E aqui começa quase que uma vida de mãe a tempo inteiro que o pai mal tem tempo para partilhar. Não podia haver uma opção de regressar ao trabalho em horário reduzido?Isto para não dizer que deveria ser assim e pronto, e preferencialmente sem penalizações, mas já que estamos no país em que estamos… Pelo menos ser opcional o pai regressar com um horário de, digamos, 6 horas, para poder acompanhar mais a mãe e a pequena cria.
Não sendo possível, lá fica a mãe responsável pelo forte. Pelo que foi a minha primeira licença, prevejo que seja semelhante ou pior desta vez. A mais nova já fica mais tempo acordada durante o dia e a mais velha precisa que eu tenha os meus olhos nela constantemente (e que a acompanhe, claro). Juntem a isto as refeições, brincadeiras, banhos e as tarefas domésticas e muito depressa a mãe desaparece deste mundo, como se de alguém irrelevante se tratasse.
A licença exclusiva da mãe é muita vez vista como o tempo de amamentação mínimo (sendo que se formos por esse caminho temos pano para mangas para abrir discussão) mas nem chega aos meses que a Organização Mundial de Saúde recomenda para a amamentação. Mas adiante. Custa-me que haja este pensamento e ainda há dias li um post que dizia que custa sempre imenso à mãe voltar ao trabalho porque tem que amamentar e porque tem uma ligação especial à cria.
Acho isto muito redutor, no que respeita à função da mãe, e generalista, na constatação do sentimento de dor e sacrifício. Lamento informar – ou não – que não há sempre esta dificuldade em regressar ao trabalho e às rotinas. Eu fico a contar os dias para o fim da minha licença, a sério. Nesta ainda nem tanto, mas na anterior isto aconteceu durante 4 meses. Sentia-me um prisioneiro a cortar os dias no calendário. Foi libertador regressar e ter algo adulto, estar com outras pessoas, ter parte da minha rotina de volta e ter temas alheios à vida de casa e de mãe para tratar.
Nao tenho qualquer problema em admitir isto, mas vi como muitas pessoas reagiram quando lhes dizia que estava neste ponto. Muitas delas, acredito, de certeza que passaram pelo mesmo, mas sentem culpa em admitir esse sentimento.
Porque “é suposto” a mãe amar os filhos e querer estar sempre com eles. É suposto amar os filhos, informo-vos já, não pressupõe anular a mãe, desfazê-la emocionalmente e tirar-lhe a vida a que tem direito. OK? Se discordam, temos pena.
Lembro-me bem da minha primeira licença e de quanto choro e exaspero incluiu. Lembro-me de não ter tempo para mim – leia-se não ter tempo para coisas básicas como comer, ir à casa-de-banho e afins – e de ainda ser criticada (adivinhem por quem) por ter a casa desarrumada. Antes de mais, pensem antes de criticar uma mãe nestas alturas. Não sabem como estão a ser os dias e não esperem que elas se queixem abertamente. Se forem visitar,perguntem-lhe pelo menos como ela está. Não só é cortês é educado, como é provável a mãe estar a precisar de ajuda e descanso; se for preciso, ajudem. Não lhe digam para vos avisar quando quiser ajuda, por não vai acontecer. Quando forem visitar, levem o lanche ou, se estiverem muito à vontade com ela, ajudem numa tarefa doméstica. O agradecimento vai ser maior do que a vergonha de necessitar de ajuda.
Há tanta coisa que se faz e aconselha para a gravidez e parto, mas tão pouco para o pós-parto. Porquê? Não faço ideia.
Quando a pipoca mais nova tem um dia mais difícil, revejo mentalmente os meses de 2017 que passei com a minha filha mais velha ao colo. Não havia forma de a conseguir pousar sem que ela começasse a berrar instantaneamente. E não, não fui eu quem a habituou a ser assim, e, atualmente não é estragada nem super mimada. É, sim, super amada.
Adoro quando o meu marido me diz que aproveite para sair de casa e passear. A minha primeira experiência mostrou-me que isso era um desafio. Primeiro, seria agradável ir até um parque espaçoso sem ter que pegar no carro, mas não há nenhum sítio agradável e baby friendly na minha zona. Depois, chegando lá acabo por estar como em casa – com uma miúda ao colo, porque nem deitada numa toalha sobre a relva fofa ela ficava mais de 2 minutos. E nestas alturas, já que era assim, preferia ficar em casa. Não tinha trabalho para sair e podia andar de pijama, em vez de me sentir uma maltrapilha com uma miúda aos berros ou, no mínimo, maltrapilha com a miúda ao colo o tempo todo. 🤔
Vamos lá a ver se desta vez corre melhor. Vou dando notícias sobre o tema. Até lá leiam este post. Leiam bem e continuem a ler os seguintes.