Hoje chega mais uma partilha de Mãe para Mãe, com a Maria João a falar-nos de momentos de coração bem apertado quando a pequena A adoeceu ainda antes dos 3 meses.
“A Maternidade estava a correr dentro da normalidade possível, quando no dia 17 Março a “A” começou a ter um comportamento diferente. O choro não era o mesmo, e estava muito prostrada. O sentido maternal (se é que existe) foi activado e eu senti que algo não estava bem. Febre, um cheiro diferente na fralda e um corrimento levaram-me a fazer uma urgência com ela.
Colheitas de sangue e urina, e logo pela colheita desta última deu para perceber o que poderia ser. Infecção Urinária era o diagnóstico inicial, o que queria dizer que teria que fazer Antibiótico. Com dois meses e meio, não era possível o Antibiótico ser em xarope, pelo que a notícia cai que nem uma bomba, “a “A” vai ter que ficar internada para fazer a medicação endovenosa entre 8 a 10 dias”. As lágrimas correram pela cara abaixo, por tudo o que acarretava um internamento sendo ela assim tão pequena e a adaptação que teria que surgir num espaço estranho a que não estavamos habituados. A consciência que teria que ficar com ela internada começou a pesar, porque sabia que teria que passar a noite com ela sozinha num quarto de hospital. O Pai ficou três noites comigo para me ajudar, trouxe a casa às costas e um apoio incondicional que me enchia de alguma esperança e aceitação daquela condição que a Princesa tinha.
Os dias foram passando, e a visita médica não trazia sempre o mesmo plano, uns diziam que se continuasse sem febre que poderia vir a ter alta antes dos 8 dias, mas vinha logo outro médico no dia a seguir que não partilhava da mesma opinião, e as minhas expectativas iam por ali abaixo. A “A” estava sempre bem-disposta, ficou logo no dia a seguir a ser internada sem febre e parecia que estava tudo a correr bem. No dia 22 foi dia de realizar uma Ecografia Renal, para ver se os rins tinham alguma inflamação derivada da Infecção Urinária. Foram minutos frustrantes, porque não conseguia acalmar a “A” enquanto lhe faziam o exame e estava sozinha com ela, não tinha com quem dividir o desespero que já começava a aparecer. Muita informação foi sendo transmitida, e após algum tempo era certo, a “A” tinha nascido com uma condição que se chama de Refluxo Vesico-uretral, ou seja, a urina reflui da bexiga para o rim e o risco de provocar Infecções Urinárias é muito grande. Um grande choque, um misto de negação, tristeza e revolta assombraram a minha mente e com ela nos braços no meio de um corredor, não contive as minhas emoções e entrei num choro soluçado que foi amparado por uma auxiliar que pegou logo na “A” ao colo e tentou confortar-me dada a situação.
Muita pesquisa, muitas questões foram sendo feitas aos Profissionais de Saúde, mas toda a informação não era suficiente. Com o resultado desta Ecografia, alta do Hospital era coisa que estava muito longe de acontecer, e o mais certo era fazer os 10 dias de internamento. No dia 23, a médica que passou visita disse-me que iria ter uma consulta com um Pediatra Nefrologista, o Prof. Dr. Caldas. E assim foi, este explicou-me tudo e mostrou-me que esta condição era mais frequente do que eu pensava, senti que não estava sozinha nesta luta. Foi super compreensivo e interessado, e percebeu que não estava a ser fácil em todos os aspectos o internamento no Hospital. Viu todos os exames que a “A” tinha feito, e quase a completar os sete dias de Antibiótico e a “A” com quase três meses de idade (idade em que podem passar a fazer a medicação em forma de xarope, porque em termos de desenvolvimento fisiológico assim é possível), ele diz que no dia a seguir teriamos alta completando os restantes dias com Antibiótico em xarope, e ainda me recomendou para ir à Maternidade ter com ele para a “A” ser seguida em consulta. Como devem imaginar, grande foi a felicidade com esta decisão.
Na noite desse dia, a Enfermeira vem para administrar o Antibiótico pelo catéter, e a “A” já a dormir profundamente, e repara que o catéter não está funcionante. A solução passa por ligar para o Pediatra Assistente para saber o que se terá de fazer, se se coloca novo catéter ou se inicia o Antibiótico em xarope. A decisão veio ser dada pessoalmente pelo mesmo e o que eu mais desejava se concretizou, “vai ser em xarope”. Acabei por ter que a acordar e a muito custo lá tomou o xarope. No dia a seguir, como prometido tivemos alta do Hospital, e chegar a casa foi um enorme alívio, tal como senti no primeiro dia que ela foi para casa depois de nascer.
Escolhi esta fase da vida da “A” para partihar convosco, porque tenho aprendido que na Maternidade muito fica por dizer e fala-se mais da beleza que é ver crescer os nossos bebés do que propriamente das dificuldades pelos quais passamos. E saber que não somos as únicas a passar por determinada experiência torna tudo um pouco mais fácil de aceitar.”
Obrigada, Maria João ❤️