Este é o primeiro texto da secção “A Mamã convida”! 🙂
Escrito pela Sofia Teixeira, mãe da Carolina, vem falar-nos de como ela tem comunicado com a filha, desde a barriguinha 💟
“Desde que soube que estava grávida que falo com a Carolina. Falava imenso com a minha barriga, ainda nem se notava. O Pedro dizia que eu era maluquinha; talvez fosse mas para mim sempre fez sentido e continua a fazer falar com os mais pequenos, ajuda a formá-los, mesmo dentro da barriga. Talvez o facto de ter tido uma gravidez de risco tenha ajudado a isso, mas assim que a Carolina nasceu, felizmente saudável, que sempre falei com ela, lia-lhe histórias à hora de deitar, explicava-lhe as coisas. Acho que as crianças, mesmo bebés, podem não perceber o que lhes dizemos, claro. Mas percebem a forma como os tratamos, como falamos com eles, como os consideramos pessoas desde que começam a existir. E ao crescerem habituadas desta forma não temos de nos adaptar a nada, à forma de tratamento diferente (no que toca a conversas, claro). Talvez por isso a Carolina se explique tão bem e perceba tão bem, agora que tem 5 anos, tudo o quanto lhe explicamos. Tento não fugir a assuntos sérios, dar sempre uma resposta às perguntas dela, o mais fiel à realidade, às vezes existenciais que me deixam um pouco sem fôlego. Fazê-la perceber que a tristeza existe, a frustração e que temos de lidar com essas coisas, embora tente que não sofra muito com essas coisas ainda, pois é muito pequenina e tem tempo para se preocupar com essas coisas. Gosto muito de conversar com ela, por norma ponho-me à altura dela, sentamo-nos frente a frente e faço por não haver nenhum tipo de ruido à nossa volta para que a conversa seja o máximo produtiva. Às vezes ela tem conversas e pensamentos que me deixam com o coração nas mãos: ontem à noite veio ter comigo e disse-me “Mãe, acho melhor dizeres-me chau, é melhor eu ir para outra casa.” Perguntei-lhe porquê, estava em limpezas, mas rapidamente percebi que havia muita profundidade naquelas palavrinhas dela. Parei tudo e sentei-a no meu colo e perguntei porque estava a dizer aquilo. “Porque sou uma pessoa horrível, faço asneiras e enão quero portar-me mal”. Mas alguma vez te dissemos que eras horrível? Alguém te disse isso, perguntei eu. “não, mas eu é que acho”. Fiquei do tamanho de uma ervilha, uma criança com 5 anos dizer aquilo… fez-me questionar se estarei a falhar em algum lado. Mas na realidade é que as crianças são pessoas e vão absorvendo tudo o que ouvem e levam para a sua realidade as suas perceções. Lá lhe disse que ela não é uma pessoa horrível, mas sim maravilhosa. Que pessoas horríveis fazem mal a outras, que só fazem o mal e que fazer asneiras não é fazer o mal. Que é normal as crianças e até os mais velhos fazerem asneiras, para nunca achar que é uma pessoa horrível e que fazendo ou não asneiras, o lugar dela é e será sempre junto a nós que a amamos muito. Só sosseguei quando voltei a ver aquele rosto esboçar de novo um sorriso.
Acho que a única vez que fugi a um assunto sério com ela foi quando o lavrador dos meus pais morreu. Ele nasceu no mesmo ano que ela, ela cresceu com ele, deitava-se no chão ao lado dele, no colo dele, brincava com ele, dava-lhe de comer, passeava-o com trela. Quando ele morreu não achei justo contar-lhe e dar-lhe já tanta carga emocional para ela lidar tão pequenina. Decidi contar-lhe que o Bóris conheceu uma cadelinha, a Estrelinha e que casou e foi morar com ela. Não sei se fiz bem ou mal, para mim é o que faz mais sentido. Ela volta e meia lembra-se dele e sente muitas saudades dele mas fica feliz porque ele encontrou uma namorada. Acho que as crianças merecem sempre uma explicação, independentemente da idade delas, elas são pessoas e sentem bem quando estamos a falar com elas por obrigação e só para as calar e quando falamos com elas respeitando-as como merecem.”
Obrigada, Sofia!