Ser mãe solteira é, no mínimo, algo sobre o qual ainda paira muita crítica, quando na verdade não conhecemos as situações que levaram a isso. Pode ter sido uma opção, pode ter sido uma circunstância da vida ou uma decisão que teve que ser tomada.
Hoje deixo-vos o testemunho da Tânia, mãe solteira ainda desde a gravidez. Desafios, sim, mas de cabeça erguida.
Obrigada, Tânia!
“Olá! O meu nome é Tânia e sou mãe solteira. Tenho um filho de 7 anos que é a minha vida (desculpem o clichê). Ser mãe solteira não foi opção minha. Quis o universo que assim fosse.
Às 12 semanas descobri que “afinal havia outra”. Nunca foi opção voltar tudo ao normal e fazer de conta que nada daquilo não tinha passado de um pesadelo. Quando soube, a minha primeira tentativa foi abortar. Não queria por motivo algum ter um filho daquele homem. Mais uma vez, e porque continuo a acreditar que tudo na vida tem um motivo, e é sempre bom, se não for é porque ainda não foi o verdadeiro motivo, seria impossível abortar pelos métodos legais uma vez que já passava uma semana do prazo legal. Fui convencida pela médica obstetra e pela minha mãe a não fazê-lo.
Estava em pânico e com vergonha ao mesmo tempo. Por estúpido que pareça tinha vergonha de estar grávida e de responder às tipicas perguntas “então e o pai está feliz?”; “e o pai quer menina ou menino?”.
Decidi fazer um curso de preparação para o parto, mas mais um vez a vergonha apoderou-se de mim. Todos os sábados ia às aulas, mas quando havia algum exercicio prático em que falavam na participação do pai, acenava sempre com a cabeça como se fosse óbvio que o pai estivesse lá e apenas não estava naquele dia porque tinha que trabalhar.
Às ecografias ia acompanhada de uma amiga, hoje a madrinha do meu filho. Ela ficava tão feliz que até acho que por momentos houve alguém naquela clinica que deve ter pensado que éramos um casal homossexual e que eu tinha feito inseminação.
O dia que mais me custou: o primeiro dia que senti o meu filho mexer. Foi dia 25 de agosto de 2011. Eu vivia sozinha e estava à noite deitada na cama quando o senti na plenitude. Chorei muito. Não sabia até então que era possível, ao mesmo tempo, chorar de alegria e de tristeza. De alegria por ser algo maravilhoso e de tristeza por não ter a quem dizer “põe aqui a mão” e emocionar-se tanto quanto eu.
No último mês de gravidez optei por ir viver com a minha mãe. Ambas chegamos à conclusão que seria o melhor. A minha ideia sempre foi quando o meu filho tivesse 3 meses procurar nova casa para os dois. Planos furados. Criar uma criança sozinha e a trabalhar em simultâneo numa multinacional com deadlines apertados haveria algo que ia ficar para trás. Esse algo ser o meu filho nunca foi opção. Por isso, viver com a minha mãe deixou de ser uma situação temporária para ser uma situação definitiva. Por circunstâncias da vida, ela também deixou de ter o ganha pão dela e decidimos que a nossa vida iria ser assim: eu trabalhava e ela tratava da casa e do Duarte. Óbvio que os rendimentos diminuiram mas não podíamos ter tudo, e pareceu-nos e ainda hoje nos parece que é o que nos traz mais paz de espirito e qualidade de vida.
Quando tive o Duarte pensei muita vez que gostava de ter outro filho. Esta vontade era movida apenas por achar que merecia ter uma gravidez normal, de um pai normal, com alguém que estivesse a viver verdadeiramente aquele momento comigo. Os anos passaram e as batalhas que tive de enfrentar fizeram-me ver que não tinha força para mais. Que não quero partilhar a educação de um filho com mais ninguém que tenha ideais diferentes dos meus. Posso até ser egoista, mas não, não quero ter mais filhos.
O pai do meu filho, ao fim de 7 anos, escreveu uma carta a informar que não o queria ver mais. Que pagava pensão de alimentos por ser obrigado a isso. Mais uma vez a vergonha. Mas agora é a vergonha desta opção que fiz na vida… a de o ter escolhido para pai do meu filho. Tirando isso é possível sermos felizes. E somos muito.
Tenho paz em casa. Tenho um filho super educado. Tenho uma mãe maravilhosa que me substituí na perfeição sempre que tal é necessário. Tenho um namorado que, apesar da distância, está sempre presente na minha vida e na do meu filho. Que mais poderei pedir?”