Cá em cá há uma entidade que recebe dádivas com frequência: o Deus Chão.
Eu não tinha noção do quão importante é para uma criança fazer estas dádivas, mas chegou uma altura da vida da minha filha mais velha que me ensinou que isto faz parte da rotina diária.
Entre as dádivas mais comuns estão o arroz e bolachas, mas também já lhe foi dada carne, pão, massa, cuscus, cenoura, frutas diversas e muitos outros alimentos de que não me recordo agora.
Pelo que percebi, há dias em que a dádiva tem que ser maior e mais completa. Então a minha filha faz questão de dar parte da sua refeição completa, num gesto muito nobre. Vão restos de sopa, bem como do prato que vier a seguir. Nós, pais e adultos, já perdemos esta nobreza. No fundo, devíamos era ver nisto uma metáfora da sociedade – e agora vinha aqui fazer o discurso do quão importante é darmos ao próximo, mas, acreditem, que perdi essa nobreza no que ao Deus Chão concerne mal tive que começar a limpar aquilo que a divindade não quer.
A pequena bem tenta, mas este Deus parece-me muito mal agradecido. Ela até da sobremesa oferece e ele nada. Nem um agradecimento. Não sei se quero que a minha filha se dê com exemplos destes.
Ainda assim, tenho a certeza que as dádivas ao Deus Chão continuarão por anos e anos.
Mamã, dá licença? 