Amar o Filho Mais Velho: O Equilíbrio Entre Proximidade e Crescimento

A nossa Pipoca mais crescida já tem 8 anos! Parando para a observar, conseguimos encontrar já alguns sinais da pré-adolescência a dar de si. Quer ser mais independente – pede-nos para andar sozinha na rua, para ter os seus phones para ouvir música, e coisas assim. Mesmo com a irmã já surgem alguns momentos mais comuns de despique – tudo dentro do normal!

Mas é natural que, como mães e pais, nos questionemos: como continuar a amar e estar presentes sem sermos excessivos? Como encontrar o equilíbrio entre dar atenção e respeitar o crescimento natural dos nossos filhos mais velhos?

A verdade é que amar um filho mais velho e os seus irmãos por vezes requer uma mudança de abordagem. Já não se trata apenas de satisfazer necessidades básicas ou de brincar como fazíamos quando eram pequenos. É preciso compreender que estamos perante uma pessoa em crescimento, que precisa tanto da nossa presença como do nosso respeito pela sua individualidade emergente.

O Que Nos Diz a Investigação

Como primogénitos, os filhos mais velhos podem receber mais atenção não dividida dos pais, e os pais podem transmitir predominantemente as suas crenças e regras a esta criança. Ter irmãos mais novos pode fazer com que a criança mais velha assuma mais liderança e responsabilidade. Esta observação, apoiada pela investigação em psicologia do desenvolvimento, ajuda-nos a compreender que os nossos filhos mais velhos enfrentam desafios únicos.

Curiosamente, num estudo de 2015, que incluiu 377.000 estudantes do ensino secundário, a psicóloga Rodica Damian e o seu colega Brent W. Roberts descobriram que os primogénitos tendiam a ser mais conscienciosos, extrovertidos e dispostos a liderar. No entanto, quando combinados com outros estudos, há evidências definitivas de que a ordem de nascimento tem pouco ou nenhum efeito substantivo na personalidade, exceto em questões relacionadas com a inteligência.

O que isto nos ensina? Que cada criança é única, independentemente da posição que ocupa na família, e que as nossas expectativas devem basear-se na individualidade de cada filho, não em estereótipos sobre ordem de nascimento.

Criar Momentos Só Nossos

A dica mais valiosa para manter a ligação com o filho mais velho – com todos, na verdade – é simples, mas transformadora: criar tempo exclusivo para ele na nossa rotina. Não precisa de ser muito tempo – podem ser 15 minutos por dia ou uma hora na semana. O importante é que seja consistente e que seja apenas dele connosco.

Durante este tempo, deixemos que seja ele a liderar. Se gosta de dinossauros, vamos explorar dinossauros. Se tem interesse em coleções, apoiemos essa paixão. Se quer conversar sobre os amigos da escola, estejamos presentes para ouvir. O segredo está em seguir os interesses dele, não em impor os nossos.

Reconhecer a Sua Crescente Autonomia

Uma das maiores armadilhas quando se trata de filhos mais velhos é continuarmos a tratá-los como tratamos os mais novos. Aos 8, 9, 10 anos, eles precisam de sentir que reconhecemos o seu crescimento. Isto significa dar-lhes escolhas, permitir que tomem algumas decisões e, acima de tudo, tratá-los de acordo com a idade que têm.

Quando incentivamos uma coleção, quando os deixamos escolher uma atividade familiar, ou quando lhes permitimos liderar uma brincadeira com os irmãos mais novos, estamos a transmitir uma mensagem poderosa: “Vejo-te como a pessoa que estás a tornar-te, não apenas como a criança que eras.”

O Equilíbrio Entre Responsabilidade e Diversão

É comum que, sem darmos conta, coloquemos mais responsabilidades nos ombros dos filhos mais velhos. “Cuida do teu irmão”, “Dá o exemplo”, “És o mais velho, deves saber melhor” – estas frases, embora bem intencionadas, podem criar uma pressão desnecessária.

É importante permitir que o nosso filho mais velho seja criança, tal como todas as outras crianças. Deixá-lo fazer travessuras ocasionalmente, rir connosco, ser espontâneo. O peso de “ser sempre o responsável” não deve caber a uma criança de 8 ou 10 anos.

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Pequenos Gestos, Grandes Impactos

Por vezes, são os gestos mais simples que fazem a diferença. Lembrar-nos de perguntar sobre aquele teste importante, guardar um artigo sobre um assunto que sabemos que lhe interessa, ou simplesmente fazer-lhe uma festinha no cabelo quando passamos por ele.

A investigação sobre desenvolvimento infantil mostra-nos que as crianças desta idade estão numa fase crucial de construção da sua identidade. Precisam de saber que são vistas, valorizadas e amadas, mas também que são respeitadas como indivíduos em crescimento.

Presença sem Intrusão

À medida que crescem, os nossos filhos mais velhos começam a criar o seu próprio mundo de amizades e interesses. E isto é saudável! O nosso papel não é competir com este mundo, mas sim ser um porto seguro para onde podem sempre regressar.

Isto significa estar disponível quando precisam de nós, mas não insistir quando querem espaço. Significa interessar-nos genuinamente pelos seus projetos, mas não assumir o controlo. Significa celebrar as suas conquistas, mas também estar presentes nas suas dificuldades.

Não precisamos de ser ridículos — só presentes

Não precisamos inventar um parque temático em casa ou fazer vozes embaraçosas só para captar a atenção dos mais velhos. Às vezes, o que mais conta é ouvir com interesse as histórias que trazem da escola, jogar o mesmo jogo de tabuleiro 3 vezes seguidas ou perguntar “Queres vir ajudar-me a fazer o jantar?” e deixá-los, de facto, participar.

Uma frase do artigo “Como dar atenção ao filho mais velho sem ser ridículo” ficou comigo:

“Eles precisam de saber que ainda têm o nosso coração, mesmo quando não têm mais o nosso colo.”

A importância do toque e da linguagem positiva

Apesar de parecerem mais independentes, os filhos mais velhos ainda beneficiam imenso do toque afetuoso — um abraço, um miminho, uma mão no ombro. Estes gestos simples ajudam a regular emoções, diminuir o stress e reforçar o vínculo entre pais e filhos.

Outro cuidado é com a comparação constante. “Tu és o mais velho”, “devias saber”, “olha como a tua irmã faz melhor”… Mesmo quando achamos que estamos a incentivar, podemos estar a pressionar ou a desvalorizar.
O filho mais velho é, muitas vezes, um mini-adulto, mas isso não significa que não sinta ou não se canse. Ele também precisa de colo, também se frustra, também quer atenção sem ter de a merecer.

A forma como falamos também conta. Um elogio sincero ou um “obrigada por ajudares o mano” pode ter mais impacto do que julgamos.

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Coisas pequenas que fazem uma grande diferença

  • Reservar um tempo só com eles, nem que sejam 10 minutos por dia.
  • Pedir a sua opinião — sobre o jantar, sobre o filme da noite, sobre a decoração da sala. Isto mostra que valorizamos as suas ideias.
  • Partilhar memórias: “Sabes que quando tinhas 3 anos adoravas esta música?” — ajuda a reforçar a história comum que têm com os pais.
  • Permitir que tenham o seu espaço, mas estar por perto, disponível.
  • Manter rituais simples, como a história antes de dormir ou a conversa de almofada.

Mais umas coisas simples que funcionam cá em casa

  • Um bilhete escondido na mochila ou na almofada.
  • Um passeio a dois, mesmo que seja só até ao supermercado.
  • Um jogo de tabuleiro à noite, sem distrações.
  • Deixar que me ensine algo que aprendeu (mesmo que eu já saiba).
  • Um livro partilhado, em que lemos aos bocadinhos, cada uma na sua vez.

E quando não dá?

Nem todos os dias são ideais. Há dias em que a paciência falha ou em que nos sentimos demasiado cansados. E são tantos esses dias deste lado… Eu respiro e digo que “está tudo bem, amanhã vai ser melhor”, mas às vezes fico bem pequenina. No entanto, também sei que é importante voltar a tentar; mostrar que estamos a aprender a ser pais de filhos que também estão a crescer, a mudar.

Sugestões de livros para ler juntos

  1. O Meu Coração de Corinna Luyken – Um livro poético sobre emoções, indicado a partir dos 6 anos.
  2. Crescer é Tão Difícil de Scott Stuart – Um livro que fala sobre o crescimento e o desejo de continuar a ser pequeno.
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Conclusão: Amar com Sabedoria

Amar um filho mais velho não é sobre fazer de tudo para que ele se sinta “o mais importante”. É sobre mostrar-lhe que ainda é importante. Que mesmo com irmãos, trabalho, e mil preocupações, há um lugar só dele no nosso tempo e no nosso coração.

É uma arte delicada que requer ajustes constantes, para encontrar o equilíbrio entre estar presente e dar espaço, entre ser protetor e permitir crescimento.

Não há uma fórmula mágica, mas é importante estarmos dispostos a adaptar e responder às necessidades dos nossos filhos. Quando fazemos isso com amor e respeito, oferecemos um grande presente: a segurança de serem amados como são enquanto se desenvolvem.

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